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É pecado ser rico?

  • Foto do escritor: Vendéia
    Vendéia
  • 8 de jun. de 2022
  • 6 min de leitura

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A leitura da Palavra de Deus sempre será verdadeira e necessária, mas sempre terá aqueles que irão relativizar. Um deles é quando o padre de um bairro nobre precisa fazer a homilia sobre Mateus 19, quando Jesus fala do quanto é difícil um rico entrar no Reino dos Céus.


E tome relativização! E tome malabarismos e jogos de palavras para amenizar as duras palavras de Cristo sobre o perigo espiritual de possuir muitos bens. É o temor de causar constrangimentos aos fiéis mais abastados...


Antes de tudo, que fique claro: eu adoraria ganhar na Mega Sena! Mas esse desejo não me impede de enxergar a doutrina límpida e cristalina, comunicada pelos Evangelhos, pela Tradição e pelo exemplo dos santos: a abundância de bens GERALMENTE dificulta o caminho da santidade.


Não, ser rico não é pecado. Mas é mais fácil se salvar – e, sobretudo, é muito mais fácil se santificar em vida – vivendo na pobreza.


O JOVEM RICO DO EVANGELHO


Antes de tudo, vamos voltar ao jovem rico de Mateus 19:

Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?”.

Disse-lhe Jesus: “Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos”.

“Quais?” – perguntou ele. Jesus respondeu: “Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo”.

Disse-lhe o jovem: “Tenho observado tudo isso desde a minha infância. Que me falta ainda? ”. (Mt 19,16-20)

Notem que, para a gente se salvar, não é preciso ser pobre. Basta seguir os mandamentos.

Mas o jovem não queria fazer só o mínimo necessário para escapar do Inferno... não! Ele queria mais: ele queria ser SANTO.

Com palavras poucas e diretas, Jesus lhe apontou o caminho para a santidade:

Respondeu Jesus: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me! ”. Ouvindo essas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens. (Mt 19, 21-22)

Mesmo para os pobres, para quem vive na riqueza ou em relativa comodidade financeira, o conselho evangélico sobre o desprendimento dos bens deve pautar a forma como lidamos com o dinheiro e as coisas que ele pode proporcionar.


A POBREZA VIVIDA DE FORMA SINGULAR


Cada cristão é chamado a viver em certa medida o ideal da pobreza, conforme o seu contexto de vida.

Em sua série de Homilias sobre a Parábola do rico e o Lázaro, São João Crisóstomo explica que de nada adianta ser pobre e viver ávido por muitos bens.

No Juízo Final, veremos que existem pobres que viveram apegados aos bens, e também ricos que viveram com virtude, pobremente:

“Tal como no teatro, quando cai a noite e o público vai embora, e os reis e generais saem para tirar os trajes dos seus papéis, eles são revelados a todos, a partir de então, parecendo ser exatamente o que são; assim também agora, quando chega a morte e o teatro é dissolvido, todos colocam as máscaras de riqueza ou pobreza e partem para o outro mundo. Quando todos são julgados apenas por seus atos, alguns se revelam verdadeiramente ricos, outros pobres" (São João Crisóstomo, homilias sobre o Rico e o Lázaro).


Por exemplo, um pai e uma mãe com filhos pequenos dificilmente poderia, de modo responsável e prudente, abrir mão de todos os bens. Mas não devem perder de vista o conselho sobre a pobreza, evitando o consumismo, educando os filhos na caridade para com os pobres, colocando os preceitos da Igreja e os interesses do espírito acima do desejo de conforto, segurança financeira e bem-estar.

Jesus disse então aos seus discípulos: “Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos Céus! Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”

A estas palavras seus discípulos, pasmados, perguntaram: “Quem poderá então salvar-se?”. Jesus olhou para eles e disse: “Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível”. (Mt 19,23-26)


Nessa passagem fica evidente que o alerta de Jesus sobre os riscos espirituais da riqueza causa perplexidade não somente hoje, mas também há dois mil anos.

Em vez de acolher essa Palavra com humildade e ajudar os fiéis a vivê-la, cada um de acordo com o seu modo de vida, muitos pregadores buscam modificar o seu sentido, jogando o alerta sobre o perigo de ter muitos bens para debaixo do tapete. E assim os ricos e a classe média sentada nos bancos da Igreja podem seguir seus dias tranquilamente, acomodados na idolatria aos bens materiais, ao status e ao bem-estar.

Enquanto isso, em alguma igreja católica no século IV, tome voadora nos peitos:

“O pão que para ti sobra é o pão do faminto. A roupa que guardas mofando é a roupa de quem está nu. Os sapatos que não usas são os sapatos dos que andam descalços. O dinheiro que escondes é o dinheiro do pobre. As obras de caridade que não praticas são outras tantas injustiças que cometes. Quem acumula mais que o necessário pratica crime” (São Basílio, 330-379; Comentário a Mateus 25,31-46).


Se Santo Ambrósio se pusesse a pregar em nossos púlpitos hoje, muitos diriam que ele é comunista e apoiador do MST:


“Nabot não foi o único pobre assassinado. Todo dia um Nabot cai ao solo; todo dia um Nabot é assassinado… Tu não estás dando ao pobre o que é teu, mas lhe devolves o que é dele. Pois o que é comum e foi dado a todos, tu o estás usurpando sozinho. A terra pertence a todos e não apenas aos ricos. Infelizmente, são pouquíssimo os que podem usufruir a terra” (Santo Ambrósio, 339-397; Comentário a 1Reis 21).

O CAMELO E A AGULHA

E aí vem nas pregações um desfile de asneiras, como dizer que o tal camelo (usado por Jesus como imagem hiperbólica), na verdade, seria uma corda grossa. Não, nenhuma tradução da Bíblia diz “corda”, e sim CAMELO. Ca-me-lo! O bicho das duas corcovas.

Essa tese furada teve origem com Cirilo de Alexandria, que dizia que dizia que kamêlos (camelo) seria na verdade kamilos (cabo ou corda). Mas não há nenhuma evidência relevante para fundamentar essa versão.


E tome dizer que o tal buraco de uma agulha seria, na verdade, uma fenda em um muro da cidade, por onde os camelos passariam. Essa interpretação surgiu na Idade Média, mas não colou. Tanto não colou que as notas das mais respeitadas traduções da Bíblia não consideram essa hipótese. A agulha citada em Mateus 19 é a de costura mesmo!


O SEU DEUS É O DINHEIRO?


“Ah, mas eu não sou rico, eu só tenho o suficiente para a minha família viver bem” – dizem Dona Maricota e Seu Joselito, que usam anticoncepcionais (pecado grave) para limitar a família em dois filhos. Isso porque colocam a meta de comprar uma casa, de manter as crianças em escola particular e de viajar duas vezes por ano acima do Reino de Deus.


Querer viajar, ter uma casa bonita e confortável e colocar os filhos numa boa escola é ruim? Não! Tudo isso eu também quero. Mas há uma hierarquia de valores – e o espiritual deve estar à frente do material. Mas, se para obter ou manter os bens materiais, se preciso for eu viro as costas para os mandamentos e para a lei da Igreja, isso significa que o meu deus não é Jesus: meu Deus é o dinheiro.

Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza. (Mt 6, 24)


OS RISCOS DA RIQUEZA


O Evangelho mostra que, na maioria dos casos, ter bens em abundância empurra a alma para a perdição. Isso porque a riqueza:

  • Aumenta a tentação de autossuficiência (Parábola do rico insensato, Lc 12,1-21);

  • Aumenta a tentação de uma vida centrada nos prazeres carnais (Parábola do rico e o Lázaro, Lc 16, 19-31);

  • Cega, corrompe e distrai os mais fracos, que só voltam para o Pai quando perdem tudo e ficam na pindaíba (Parábola do filho pródigo, Lc 15,11-32).

Um rico deve ser muito mais firme nas virtudes do que um pobre, para seguir sendo um bom cristão. Suas tentações são maiores; com dinheiro, é mais fácil fugir da cruz e obter os meios para pecar.


Não é à toa que o número de santos pobres canonizados é muitíssimo superior ao número de santos ricos. E a imensa maioria dos santos ricos, na verdade, morreu pobre, pois doou tudo o que tinha (há poucas exceções, como os reis e rainhas, que pela natureza do cargo não podem doar tudo, e os pais com crianças pequenas, como Santa Gianna Beretta e os santos Pais de Santa Teresinha).

*****

Por fim... se você tem um bom emprego, é um profissional liberal bem-sucedido ou é empresário, fique em paz! Nada disso é pecado.


Tens dinheiro? Ótimo! Faça o possível para glorificar a Deus e construir o seu Reino através dos dons que Ele lhe permitiu ter.


Acima de tudo, jamais esqueça que o nosso Mestre ensinou que devemos buscar primeiro o Reino de Deus, e tudo o mais nos será dado por acréscimo.





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fonte:ocatequista

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